domingo, 1 de novembro de 2009

Artigo da Ecorrecreação publicado na Revista do Professor

LUCCHINI, Marlon Luis. Ecorrecreação para saber preservar o meio ambiente. Revista do Professor. n. 94, p. 41-47, abr/jun, 2008.



DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Município: Novo Hamburgo
Unidade Federada: Rio Grande do Sul
Período de realização: Março a Dezembro de 2007
População alvo: Alunos do 1º ao 5º ano do turno da manhã
Escola atingida: Escola Municipal de Ensino Fundamental Presidente Tancredo Neves
Executor e relator do projeto:
• Marlon Luis Lucchini
Graduado em Educação Física e Biologia - UNISINOS
Especialização em Psicomotricidade Relacional - UNILASALLE
Mestrando em Educação - UNILASALLE
Docente da EMEF Pres. Tancredo Neves e da
Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha
E-mail: marlonlucchini@yahoo.com.br

JUSTIFICATIVA
Há muito tempo, instituiu-se que a escola seria fechada, silenciosa e dividida, assim como é hoje, em disciplinas e matérias. Os alunos ficariam trancados em salas de aula, confinados em reduzidos espaços, sentados durante horas e horas. Os contatos com outros alunos seriam mínimos, só se poderia falar com autorização dos professores, quando houvesse oportunidade. Os jogos e as brincadeiras seriam os grandes inimigos da disciplina e deveriam ser banidos das instituições escolares.
Hoje, continua-se dando ênfase ao aspecto informativo e à aula expositiva. Basicamente, está se fazendo com que o aluno adquira conhecimento através da transmissão verbal ou escrita. Forma-se assim, um verdadeiro ciclo em que o professor explica aos alunos como são as coisas e o aluno registra tudo no caderno. O conhecimento é aceito passivamente. Em época de provas, o conteúdo é estudado, ou seja, decorado e durante a verificação, o conhecimento pretendido é posto à prova.
A escola é um mundo de silêncio e imobilidade, onde os papéis de cada um estão previamente determinados. O aluno cala, escuta, obedece e é julgado, enquanto que o professor sabe, ordena, decide, julga, anota e pune. É comum que o professor seja considerado um bom profissional quando seus alunos se mantêm quietos e comportados durante as aulas. As classes barulhentas são normalmente tidas como sendo conduzidas por professores permissivos e sem autoridade.
Aprender significa repetir o certo, contudo, aprender ciências parece ser repetir palavras difíceis. Até mesmo o significado das palavras parece não ser algo importante. Em geral, os assuntos estudados na escola não têm qualquer utilidade ou relevância para o aluno. As palavras ou símbolos usados pelos professores não têm o correspondente simbolizado para o aluno em sua experiência concreta.
O objetivo principal do professor deve ser o de despertar o interesse dos alunos, de modo a conseguir sua atenção. O incentivo à aprendizagem é o conjunto de estímulos que desperta nos alunos sua motivação, de forma que suas necessidades, interesses e desejos sejam canalizados para as tarefas referentes ao estudo.
Se faz mister proporcionar ao aluno independência, valorizando a iniciativa, a responsabilidade e o uso da experiência pessoal, para que se tornem fatores motivacionais na construção do auto conhecimento; deve-se proporcionar a possibilidade de criticar, questionar, argumentar e discutir suas experiências à luz de teorias.
Não se pode esquecer que a aquisição do conhecimento pode e deve envolver o aspecto lúdico do mesmo: o brincar de descobrir e de saber. A aquisição do conhecimento pode e deve ser acompanhada também do prazer de descobrir, dessa forma, aprender não tem que ser uma coisa chata.
O ensino deveria procurar conservar o espírito lúdico das crianças, o que pode ser conseguido através da proposição de atividades desafiadoras e inteligentes. As experiências devem ser de tal espécie que promovam uma participação alegre e curiosa das crianças, possibilitando assim o prazer de fazer descobertas pelo próprio esforço. Dessa maneira, o ensino de ciências estará integrando mundo, pensamento e linguagem, possibilitando às crianças uma leitura de mundo mais ampla e consciente.

OBJETIVOS
Para o desenvolvimento deste projeto, foram definidos os seguintes objetivos:
Gerais
Estimular o interesse e a motivação dos alunos pelos assuntos e temas desenvolvidos nas aulas de ciências, através do prazer e da alegria proporcionado pelos jogos e atividades lúdicas, numa análise crítica da sua realidade no contexto sócio-ambiental local.
Específicos
Cognitivo:
Adquirir conhecimentos específicos para uma melhor análise e compreensão da natureza, refletindo criticamente situações e posicionamentos, a fim de garantir um meio ambiente saudável.
Afetivo:
Reconhecer a importância dos assuntos desenvolvidos nas aulas de ciencias, valorizando o conhecimento adquirido para a preservação e proteção do meio ambiente, como também, participar ativamente de movimentos em prol da causa ambiental.
Psicomotor:
Explorar o corpo e os espaços interagindo no seu meio, desenvolvendo habilidades e coordenações motoras, como também, a manipulação de objetos, incorporando atitudes e hábitos ecologicamente corretos e saudáveis.

METODOLOGIA
Recorrendo a minha própria experiência e a depoimentos de professores, constato que, de maneira unânime, considera-se o jogo e as atividades lúdicas uma estratégia pedagógica importante e indispensável. No entanto, quando procuram justificar seus benefícios, não apresentam argumentos cientificamente consistentes e coerentes.
Cabe ressaltar também, que neste projeto foram trabalhadas as áreas de conhecimento das ciências naturais e educação física, no planejamento do projeto, nos temas e assuntos escolhidos para desenvolver as atividades, na aplicação, condução e avaliação.
Através destas reflexões, desenvolvi um ritual de ensino e aprendizagem de jogos e atividades lúdicas que seguem três etapas: em um primeiro momento, reúno os alunos em uma roda, para conversar sobre o tema, verificar os seus conhecimentos e experiências, comentar sobre os assuntos que serão abordados e explicar, teoricamente, como serão desenvolvidas as atividades ecorecreativas.
Em um segundo momento, aplico as atividades ecorecreativas, no pátio da escola, em uma área livre ou em uma quadra desportiva, organiza-se os alunos, explicando a atividade. Enquanto ocorrem as atividades, o professor observa e incentiva a participação de todos, interferindo, quando surgir um conflito ou para orientar o bom desenvolvimento da mesma.
Por fim, o grupo deve novamente se reunir em uma roda, para verbalizar o que fizeram durante as atividades ecorecreativas, ou seja, fazer um resumo oral, comparando a prática lúdica à teoria existente referentes aos temas e assuntos trabalhados, como também, aplicação dos instrumentos avaliativos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo não teve a pretensão, em momento algum, de propor uma nova fórmula pedagógica no ensino da ciência natural e da educação física. Todavia, procurou auxiliar a reflexão crítica atual destas áreas de conhecimento, tão importantes e necessárias para o desenvolvimento criativo-crítico-social, já que se percebe a necessidade de uma transformação e formação humana em busca de uma sociedade ecologicamente mais justa e livre.
Sintetizo que, este trabalho, teve por objetivo analisar a utilização da ecorecreação, operacionalizada neste projeto, com o uso diversificado de materiais e locais para a realização das atividades recreativas. A finalidade do trabalho consistiu em propor um modelo de atividades para as aulas de ciências naturais e educação física que objetivasse o desenvolvimento deste processo.
Com base nos resultados obtidos durante o desenvolvimento do projeto, através das avaliações e observações, conclui-se que os alunos conseguiram participar das atividades ecorecreativas. Isto evidenciou-se através do comportamento dos participantes na percepção e delimitação de um problema ecológico relacionado ao tema desenvolvido nas aulas, na experimentação e na avaliação de idéias.
Também se pode concluir, a partir da análise das aulas experimentais, que atividades ecorecreativas facilitaram a emergência de comportamentos de elevado nível de integração, evidenciados no entusiasmo, na alegria, na satisfação e na cooperação demonstradas pelos participantes.
Com os jogos ecorecreativos o professor tem total autonomia para modificar e reinventar novas formas de brincar e abordar os temas pretendidos, através de pequenas variações. Assim estaremos respeitando as diversidades regionais, culturais e políticas existentes no país. Com isso, criam-se condições que permitam aos alunos terem acesso ao conjunto de conhecimento relevante a sua realidade e necessário ao exercício da cidadania.
O grande desafio a ser enfrentado e vencido, daqui para frente, é contra uma longa tradição, onde a ciências naturais são consideradas como elemento transmissor de informações científicas e a educação física elemento disciplinador no contexto geral. Os resultados observados neste trabalho animam rever estes princípios, e rompê-los é tarefa tanto de professores quanto de alunos. O modelo proposto neste estudo é uma possibilidade de se agir com criticidade, responsabilidade e autonomia. A principal responsabilidade percebida é educar-se e aprender, com as crianças, a conhecer e transformar a nossa realidade.

REFERÊNCIAS
CORNELL, Joseph. Brincar e aprender com a natureza. São Paulo: Editora Senac, 1996.
__________ Vivências com a natureza. São Paulo: Melhoramentos/Senac, 1996.
DOHME, Vania; DOHME Walter. Ensinando a criança a amar a natureza. São Paulo: Editora Informal, 2002.
FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro. Teoria e prática da educação física. São Paulo: Scipione, 1994.
HERMANN, Mariane L. et all. Orientando a criança para amar a Terra. São Paulo: Editora Augustus, 1992.
KISHIMOTO, Morchida Tizuko. (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.
MULLER, Jackson. Educação Ambiental: diretrizes para a prática pedagógica. Edições FAMERS. Nova Prova, POA, 1998.
NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Simbolismo e jogo. V. 1. Porto Alegre: Prodil, 1994.

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